Para quem gosta de rock nacional e crê que ele ainda vive mesmo nas pequenas manifestações, nos porões pequenos que todos se apertam para ouvirem guitarras distorcidas ou no rádio dos que escutam solitários um riff saudosista, dedicamos essa reportagem que será publicada em partes semanalmente.
"Era fim de tarde e a ansiedade era visível em cada rosto da plateia. Muita gente veio de longe só pra presenciar aquele momento. As nuvens avermelhadas no céu testemunhava a chegada da noite e os primeiros acordes da guitarra anunciavam a chegada do Rock´n Roll Brasil. No palco, a figura impactante de Sérgio Dias trajava uma roupa inteiramente branca, com a monocromia quebrada por duas “scharps” coloridas amarradas nos pulsos. Liminha, o baixista, assustava a plateia com expressões corporais exageradas. Era "Os Mutantes"."
Esse momento, talvez tenha sido o mais marcante do “Colher de Chá”, o Primeiro Concerto de Rock Brasil. Em meio à repressão da ditadura militar do governo Médici, um movimento formado por artistas da região de Londrina - grupo esse que se reunia na Praça da Bandeira, no centro da cidade - teve a ideia de realizar um festival a céu aberto que englobasse diversas áreas culturais. Depois de muita preparação e muitos percalços no caminho, o festival foi realizado em Cambé, no Norte do Paraná, em 1973. O local escolhido foi o Clube Recreativo Cascata, uma chácara com um enorme campo aberto. Marcado para o dia 4 de fevereiro, o “Colher de Chá” só ocorreu no dia 11 do mesmo mês, porque a aparelhagem que estava em Minas Gerais não conseguiu chegar a tempo.
Ali se sustentava a ideia de uma identidade para o Rock Nacional. Das bandas que tocaram, o estilo que mais se exaltava era o rock progressivo, com letras cantadas em português, o que por si só já era uma inovação. Exemplo maior disso foi "Os Mutantes". Além de toda performance no palco, Arnaldo Batista no órgão, Liminha na base, Sérgio Batista no solo e Dinho na bateria, já sem a presença de Rita Lee apresentaram um show que silenciou a platéia, não só pela qualidade, mas pela forma inédita no Brasil de se fazer Rock. Mas nem só de Mutantes foi feito o "Colher de Chá". Bandas de importância no cenário nacional, como “Escaladácida”, “Joelhos de Porco” e até mesmo o portenho Tony Osanah marcaram presença na psicodelia do festival.
Em pleno surgimento do movimento hippie, o "Colher de Chá” sofreu influências da contracultura, movimento que teve sua expressão com o festival de rock Woodstock. Em pleno céu aberto, Woodstock recebeu um público inesperado de mais 500.000 pessoas e parou a pequena cidade rural Bethel do Estado de Nova York nos Estados Unidos entre os dia 15 e 18 de agosto de 1969. O festival norte-americano era pra ser realizado na cidade de Woodstock, mas a população não aceitou e o festival foi transferido para Bethel. Assim como o Woodstock, o “Colher de Chá” teve projeção para ser realizado em outra cidade, Londrina, mas o projeto não foi apoiado e foi transferido para Cambé.
Estudantes, mochileiros e muitas famílias que partiram em direção para o “Colher de Chá”, assistiam a luta incessante do movimento estudantil contra a repressão militar que se intensificava no país a quase 10 anos. Seria um momento para gritar por liberdade política e posicionar-se contra a ditadura que se arrastava. Mas não, o Colher de Chá exaltava apenas a liberdade de expressão artística.
Até a próxima semana com a continuação de como foi a preparação do do festival.
"Hoje é o último dia do resto de suas vidas"
Portanto, apreciem a leitura!
Colher de Chá, o Woodstock pé vermelho
Um dos cartazes do festival. |
Esse momento, talvez tenha sido o mais marcante do “Colher de Chá”, o Primeiro Concerto de Rock Brasil. Em meio à repressão da ditadura militar do governo Médici, um movimento formado por artistas da região de Londrina - grupo esse que se reunia na Praça da Bandeira, no centro da cidade - teve a ideia de realizar um festival a céu aberto que englobasse diversas áreas culturais. Depois de muita preparação e muitos percalços no caminho, o festival foi realizado em Cambé, no Norte do Paraná, em 1973. O local escolhido foi o Clube Recreativo Cascata, uma chácara com um enorme campo aberto. Marcado para o dia 4 de fevereiro, o “Colher de Chá” só ocorreu no dia 11 do mesmo mês, porque a aparelhagem que estava em Minas Gerais não conseguiu chegar a tempo.
Ali se sustentava a ideia de uma identidade para o Rock Nacional. Das bandas que tocaram, o estilo que mais se exaltava era o rock progressivo, com letras cantadas em português, o que por si só já era uma inovação. Exemplo maior disso foi "Os Mutantes". Além de toda performance no palco, Arnaldo Batista no órgão, Liminha na base, Sérgio Batista no solo e Dinho na bateria, já sem a presença de Rita Lee apresentaram um show que silenciou a platéia, não só pela qualidade, mas pela forma inédita no Brasil de se fazer Rock. Mas nem só de Mutantes foi feito o "Colher de Chá". Bandas de importância no cenário nacional, como “Escaladácida”, “Joelhos de Porco” e até mesmo o portenho Tony Osanah marcaram presença na psicodelia do festival.
Em pleno surgimento do movimento hippie, o "Colher de Chá” sofreu influências da contracultura, movimento que teve sua expressão com o festival de rock Woodstock. Em pleno céu aberto, Woodstock recebeu um público inesperado de mais 500.000 pessoas e parou a pequena cidade rural Bethel do Estado de Nova York nos Estados Unidos entre os dia 15 e 18 de agosto de 1969. O festival norte-americano era pra ser realizado na cidade de Woodstock, mas a população não aceitou e o festival foi transferido para Bethel. Assim como o Woodstock, o “Colher de Chá” teve projeção para ser realizado em outra cidade, Londrina, mas o projeto não foi apoiado e foi transferido para Cambé.
Estudantes, mochileiros e muitas famílias que partiram em direção para o “Colher de Chá”, assistiam a luta incessante do movimento estudantil contra a repressão militar que se intensificava no país a quase 10 anos. Seria um momento para gritar por liberdade política e posicionar-se contra a ditadura que se arrastava. Mas não, o Colher de Chá exaltava apenas a liberdade de expressão artística.
Liminha e Ségio Dias no Colher de Chá - Fotos cedidas por Wilson Vidotto Estúdio |
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